Juan Munoz em Serralves, 2008/2009





O que tem de magnífico o mundo da arte é que apesar de estarmos a visualizar o mesmo "objecto" cada observador tem uma percepção diferente do mesmo. Ao ver a exposição de Juan Munoz, em Serralves, e sobretudo esta instalação em que se deambula por entre duas dezenas de figuras masculinas, (ligeiramente mais baixas que eu),  senti-me desconfortável, pensei: porque é que eles não param de rir? Não é possível que estejam todos contentes. Lembra-me das primeiras vezes que comecei a ter contactos profissionais com alguns orientais e como estranhei o facto de muitos terem como primeiro nome "Bob" ou "Michael", quando questionei, responderam-me que adoptam um nome mais "europeu" para facilitar as apresentações, já que alguns dos seus nomes são para nós quase impronunciáveis. Nomes iguais, caras iguais, sorrisos iguais, sinto-me como Alice a cair no poço. E quero sair dali depressa. 

Ao reler o livro de Alexandre Melo, "As Aventuras no Mundo da Arte", deparo-me com um capítulo em que fala de Juan Munoz e cuja percepção dessas figuras foi tão diferente da minha:

"Juan Munoz foi um dos poucos artistas do nosso tempo capazes de superar a contradição entre a estatuaria monumental tradicional e a fobia moderna em relação à representação realista da figura humana. Munoz conseguiu criar figuras em que reconhecemos a familiaridade de uma presença humana mas que permanecem demasiado distantes e misteriosas para se nos imporem à maneira das estátuas autoritárias ou para nos permitirem uma identificação fácil em que as tornássemos depositárias das nossas banalidades psicológicas. As feições chinesas dos rostos, que temos dificuldade em distinguir uns dos outros, a tranquilidade indiferença em relação à nossa presença, o facto de parecerem absortas numa conversa de que nada sabemos poderiam levar-nos a considerar estas figuras como estranhas, anónimas, estrangeiras. E, no entanto, a confiança com que se entregam ao riso, a vulnerabilidade da sua postura desarmada, obrigam-nos a sentir que elas são, e nós também somos, formas humanas que aspiram a partilha de momentos em que seja possível passear, conversar, rir, assim, juntos. É uma espécie de ternura."

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